Tecnologias transformam vidas e revelam um mundo mais vibrante
Ao longo da história, a capacidade de enxergar um mundo vibrante e cheio de cores foi algo dado como garantido por muitos. Porém, para quem vive com daltonismo, uma condição que impacta cerca de 1 em cada 12 homens e 1 em cada 200 mulheres no mundo, essa realidade é muito diferente. Se você já se perguntou como seria enxergar o mundo sob uma paleta limitada ou em tons de cinza, é hora de descobrir mais sobre essa condição, seus desafios e as inovações tecnológicas que vêm transformando vidas.
De acordo com a oftalmologista Valéria Batista, o daltonismo, também conhecido como discromatopsia, é causado por alterações nos cones da retina, os fotorreceptores responsáveis pela visão colorida. A condição pode ser hereditária ou adquirida, e os tipos principais incluem:
Dicromacia: ausência completa de um dos três cones (vermelho, verde ou azul).
Tricromacia anômala: funcionamento alterado de um dos cones.
Monocromacia: ausência de percepção de cores, levando à visão em tons de cinza, sendo mais raro.

O daltonismo congênito afeta mais os homens, devido à herança genética ligada ao cromossomo X. No Brasil, o padrão segue a média global, ou seja, 8% dos homens e 0,5% das mulheres são daltônicos, com maior prevalência entre descendentes europeus.
Os obstáculos enfrentados pelos daltônicos vão além da dificuldade de escolher a cor ideal de uma camisa ou distinguir um semáforo. Algumas profissões, como as de piloto, eletricista ou designer gráfico, podem ser limitadas pela condição.
Felizmente, o avanço tecnológico tem oferecido suporte a esse público. “Óculos com filtros seletivos, como os da marca EnChroma®, e lentes de contato com filtros específicos prometem melhorar a discriminação de cores. Esses dispositivos não curam o daltonismo, mas ajudam os pacientes a diferenciarem cores específicas, tornando atividades do dia a dia mais simples”, explica a oftalmologista.
Para os mais conectados, aplicativos como Color Blindness Test, ColorBlind Pal e Chromatic Vision Simulator estão revolucionando a maneira como os daltônicos interagem com o mundo. Desde a escolha de roupas até a leitura de gráficos, essas ferramentas digitais oferecem suporte em tempo real.
A médica destaca que as ópticas podem explorar novas formas de atender a esse público, oferecendo produtos como óculos com lentes filtrantes, treinamentos para equipes sobre as dificuldades dos daltônicos e até demonstrações de aplicativos para clientes. “Essa abordagem melhora não apenas a experiência dos pacientes, mas também abre espaço para novos produtos no mercado óptico”, diz Valéria Batista.
Com a combinação de avanços como óculos de realidade aumentada, inteligência artificial e tratamentos genéticos experimentais, o futuro promete ser mais inclusivo para os daltônicos. A expectativa é que essas soluções sejam cada vez mais acessíveis, tornando o impacto do daltonismo na vida cotidiana cada vez menor.
A convivência com o daltonismo pode ter diferentes abordagens e impactos na vida das pessoas, a depender das alterações individuais.
O microempresário Marco Antônio Barradas tem 60 anos e descobriu que era daltônico na infância. Ele recorda um episódio marcante no primeiro ano escolar, quando não conseguiu identificar as cores em uma atividade proposta pela professora. “Naquele momento, achei que não tinha aprendido as cores, guardei isso por muitos anos e nunca falei para ninguém”, conta.

Situações embaraçosas não foram raras para Marco Antônio, como na vez em que, por engano, pintou a bandeira do Brasil de marrom, achando que estava usando o lápis verde. Só na vida adulta, por volta dos 20 anos, revelou sua condição para amigos e familiares, aprendendo a levar o daltonismo com leveza. “Hoje, brinco com a situação e nem ligo mais. É algo natural para mim e não me atrapalha.”
Já o jornalista e advogado Eduardo Schiavoni enfrenta dificuldades pontuais, como a confusão entre determinados tons de verde e vermelho. Ele cita, por exemplo, as variações nos semáforos de Ribeirão Preto -SP, cidade em que mora, dependendo da modalidade do equipamento. “Na avenida Francisco Junqueira, consigo distinguir o verde, mas em outros lugares, alguns tons de verde são vermelhos para mim”.

Durante o período escolar, algumas situações envolvendo cores geraram confusão para o jornalista. Ele relata que em mais de uma ocasião, acreditava estar usando a cor vermelha, quando na verdade utilizava verde. “As pessoas perguntavam por que pintei de vermelho, e respondia que não, pintei de verde”, conta destacando que nos anos 80, as escolas talvez não tivessem muito preparo para lidar com o daltonismo. “Isso nunca me prejudicou de forma significativa e quando os professores percebiam minha dificuldade em diferenciar as cores, adaptavam a didática para facilitar o aprendizado”, relembra.
Embora tenham conhecimento sobre os óculos e outras tecnologias disponíveis para pessoas com daltonismo, tanto Marco Antônio quanto Eduardo optaram por não buscar acompanhamento médico especializado. Ambos conseguiram se adaptar bem à condição e levar uma vida tranquila, sem que o daltonismo representasse um obstáculo significativo no dia a dia.
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