A técnica consiste na aplicação de uma pequena corrente elétrica sobre a córnea
Um avanço científico apresentado recentemente nos Estados Unidos pode transformar os procedimentos de correção da visão. A chamada Remodelação Eletromecânica (EMR) foi revelada durante a reunião de outono da American Chemical Society e despertou grande interesse na comunidade médica.
O método se diferencia das cirurgias refrativas tradicionais porque não utiliza lasers nem cortes. A técnica consiste na aplicação de uma pequena corrente elétrica sobre a córnea, feita por meio de uma lente de platina. Esse processo altera temporariamente o pH do tecido, tornando-o mais maleável e permitindo ajustes que corrigem a miopia em questão de minutos.
Para a oftalmologista especialista em cirurgia refrativa e Presbyond, Ana Vega, trata-se de um conceito inovador, mas que ainda exige etapas rigorosas de validação científica. Ela explica que a EMR é uma plataforma não incisional e não ablativa que remodela a córnea usando pulsos elétricos suaves aplicados por uma lente-eletrodo de platina. “Esses pulsos geram um gradiente de pH que torna o estroma transitoriamente maleável; ao cessar o estímulo, o pH se normaliza e a córnea ‘trava’ no novo formato. Em estudos ex vivo de córneas de coelho, houve mudança de curvatura com transparência preservada e viabilidade celular mantida, o que sinaliza um conceito promissor para correção refrativa sem corte nem ablação.”

Segundo a médica, a principal diferença em relação às técnicas já existentes é justamente a ausência de remoção de tecido ou criação de flap, como ocorre em LASIK, PRK ou SMILE. “Isso pode reduzir o impacto biomecânico e queixas de superfície ocular, além de dispensar plataformas laser de alto custo, potencialmente barateando o acesso. Já em relação às técnicas térmicas históricas, que dependiam de calor e apresentavam regressão, a EMR utiliza um mecanismo eletroquímico, sem dano térmico aparente nos modelos testados.”
Apesar do entusiasmo, a oftalmologista ressalta que ainda há muitos pontos de atenção, principalmente em segurança. É preciso observar aspectos como densidade celular do endotélio, sensibilidade ocular, estabilidade biomecânica, uniformidade do campo elétrico e transparência do colágeno a longo prazo.
O caminho até a aplicação clínica inclui diversas etapas, desde estudos in vivo em animais até ensaios clínicos comparativos com as técnicas padrões, passando por validações regulatórias e treinamento profissional.
Caso se confirme, a EMR poderia ampliar o acesso a procedimentos refrativos. “Como não depende de lasers de alto investimento, a EMR poderia ser mais barata e portátil, o que amplia capilaridade, especialmente em centros menores. Mas quem determina acesso é a conjunção de custo do dispositivo, treinamento, reprodutibilidade e regulação”, diz a médica.
Dra. Ana salienta que os dados atuais são pré-clínicos e, embora animadores, a história da refrativa ensina cautela. “Se a EMR confirmar segurança, precisão e estabilidade em estudos in vivo e ensaios clínicos, aí sim poderemos falar em uma nova plataforma que complementa, e talvez substitua, parte das cirurgias a laser”, finaliza.
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