A miopia pode surgir em qualquer idade, inclusive ao nascimento, embora isso seja raro.
O uso de óculos para correção da miopia em crianças tem se tornado cada vez mais comum e necessário. A miopia é um erro refrativo que compromete a visão à distância, e seu diagnóstico precoce é essencial para garantir o desenvolvimento saudável da criança, tanto no aspecto visual quanto emocional e escolar. Com o avanço da tecnologia, as lentes específicas para controle da miopia têm ajudado a frear a progressão do grau, proporcionando mais qualidade de vida. Além disso, o uso dos óculos pode transformar a autoestima infantil, tornando-se um aliado no cotidiano.
Segundo a oftalmologista Adele Marques (CRM 108805), especialista em estrabismo, oftalmopediatria e neuroftalmologia, a miopia ocorre quando a imagem se forma antes da retina. Isso pode acontecer devido a um globo ocular alongado ou a uma córnea mais curva. “Ela costuma aumentar conforme ocorre o crescimento da criança e do globo ocular, e pode ter progressão mais acelerada quando há uso frequente de telas ou atividades próximas aos olhos”, explica.

A condição pode surgir em qualquer idade, inclusive ao nascimento, embora isso seja raro. A médica recomenda que o primeiro exame oftalmológico seja feito entre 6 e 12 meses de vida, com consultas periódicas ao longo da infância. Alguns sinais podem indicar baixa visual, como dificuldade para encontrar objetos à distância, quedas frequentes, franzir a testa, apertar ou esfregar os olhos, confundir cores ou formas, além de apresentar estrabismo. No entanto, a miopia pode começar de forma leve e passar despercebida.
De acordo com Dra. Adele, durante a puberdade, a progressão da miopia pode se intensificar devido ao crescimento acelerado do globo ocular. Para ajudar a reduzir essa evolução, já existem lentes com tecnologia que combinam uma zona central de correção com uma área periférica desfocada, inibindo o alongamento ocular. Lentes com maior índice de refração também podem ser indicadas, tornando os óculos mais finos e leves.
A escolha da armação é fundamental. “Não basta ser resistente, é preciso que seja flexível e confortável, pois a criança usará os óculos cerca de 14 a 16 horas por dia”, afirma a médica, destacando que o uso prolongado não costuma ser um problema. “Normalmente a criança míope adora os óculos. Após experimentar uma visão nítida como não tinha antes, é amor à primeira vista”, diz. Para lentes de controle da miopia, o uso recomendado é de pelo menos 12 horas diárias.
Embora seja raro, a miopia pode regredir naturalmente em alguns adultos após os 40 anos. Porém, a maioria dos casos não se reverte. Entre os tratamentos disponíveis estão a ortoqueratologia, com lentes de contato usadas durante o sono que remodelam temporariamente a córnea, e a cirurgia refrativa, como LASIK ou PRK.
Para prevenir ou retardar o avanço da miopia, a principal recomendação é reduzir o tempo de exposição às telas e atividades de visão próxima. A Sociedade Brasileira de Pediatria orienta:
- Menores de 2 anos: evitar exposição às telas, mesmo passivamente.
- Entre 2 e 5 anos: no máximo 1 hora por dia, com supervisão.
- Entre 6 e 10 anos: 1 a 2 horas por dia, com supervisão.
- Entre 11 e 18 anos: até 2 a 3 horas por dia, evitando uso noturno.
“A exposição à luz natural, por pelo menos 2 horas diárias, também é indicada como hábito protetivo. Por isso, é importante incentivar atividades ao ar livre e priorizar ambientes com boa iluminação natural, como salas de aula com amplas janelas”, recomenda a oftalmologista.
A dentista Fabiana Pichinin relata a experiência com seu filho Davi, de 9 anos, diagnosticado com miopia aos 6. “A desconfiança veio porque ele apertava os olhos e ficava muito perto da televisão. Um dia, na garagem do prédio, meu marido o viu apertando os olhinhos e perguntou o nome de um carro. Ele respondeu que não conseguia enxergar nada, mesmo não estando tão longe”, conta.
Após o diagnóstico, Davi passou a usar óculos e não os tirava nem para tomar banho. “Agora, assiste à TV de longe e enxerga bem, e seguimos fazendo o acompanhamento”, diz Fabiana. Há dois anos, as lentes foram substituídas por um modelo que retarda o avanço da miopia. “O grau ficou estável por dois anos e, em julho passado, no último acompanhamento, o aumento foi pequeno. A gente fica feliz, porque ele consegue ter uma vida normal. É muito ruim não enxergar”, conclui.

Além do olhar atento da família, os professores desempenham um papel fundamental na identificação precoce de possíveis problemas de visão nas crianças. A professora Thaís Regina Ismail observa que crianças com miopia podem se mostrar desestimuladas a copiar da lousa ou forçar os olhos para ler. “Isso gera insegurança, baixa autoestima e timidez. A criança nem imagina que não tem culpa por não ver, nem por não perceber detalhes de um texto ou ilustração. Assim, seu desenvolvimento escolar pode ser afetado e seu emocional também pode sofrer”, afirma.

Thaís conta que, ao começar a usar óculos, a criança pode estranhar, mas logo percebe os benefícios. “Já tive criança dizendo que achava que era muito feia e agora se acha bonita”. A educadora ainda compartilha uma estratégia que aprendeu com uma professora, dar nome aos óculos. “Um nome carinhoso, engraçado e representativo faz toda a diferença”, diz, revelando que costuma brincar com os alunos sobre seus óculos. “Geralmente, eu digo, ah, Bóris, o que seria de mim sem você? ou pergunto se alguém viu onde esqueci a Gertrudes. São meus óculos e a moda pega”.
Thaís ainda relembra que, antigamente, quem usava óculos era apelidado de quatro olhos. “Hoje existem modelos lindíssimos, cores maravilhosas e lentes com tanta tecnologia que nem se imagina o grau da criança. Depois disso tudo, até quem não usa óculos diz que gostaria de usar”, finaliza.
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