Artigo: O ataque ocorrido na última segunda-feira em Itapetininga (SP), quando um oftalmologista invadiu um consultório de optometria, deixou o Brasil perplexo e o mercado óptico em estado de reflexão. O episódio trágico, que resultou em mortes e feridos, expõe um ponto delicado, mas urgente: até que ponto as divergências profissionais podem ultrapassar o limite do respeito? Apesar de não ter a motivação do ataque confirmada, o ato acendeu a discussão sobre a relação entre oftalmologistas e optometristas no Brasil.
A tragédia vai muito além da violência. Ela nos obriga a olhar com maturidade para algo que deveria ser natural: o reconhecimento das diferenças entre formações e o entendimento de que cada uma tem seu papel no cuidado à saúde.
Assim como nutricionistas e nutrólogos, psicólogos e psiquiatras, oftalmologistas e optometristas também possuem competências distintas, formações acadêmicas diferentes e responsabilidades específicas. E todas são essenciais para a saúde. O oftalmologista é o profissional médico que diagnostica, trata e intervém em doenças oculares, seja clinicamente ou cirurgicamente. Já o optometrista é o especialista na avaliação funcional da visão, na prescrição e adaptação de lentes, e na orientação preventiva, focando na saúde ocular primária e na melhoria da qualidade visual.
Um não substitui o outro, e é justamente essa complementaridade que fortalece o atendimento ao paciente. No Brasil, a atuação dos optometristas tem sido objeto de debates jurídicos. Em 22 de outubro de 2021 por unanimidade o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que optometristas com formação superior reconhecida pelo Ministério da Educação podem exercer a profissão, incluindo a prescrição de lentes corretivas. No entanto, o diagnóstico e tratamento de doenças oculares continuam sendo atribuições exclusivas dos médicos oftalmologistas, reforçando a distinção de papéis e a necessidade de colaboração.
O caso de Itapetininga não deve ser visto como um reflexo generalizado da categoria, mas sim como um doloroso alerta para a importância do diálogo e da convivência ética entre profissionais que compartilham o mesmo propósito fundamental: promover o bem-estar visual da população.
O cuidado com a visão e, em última instância, com a vida, exige empatia, limites claros e uma colaboração genuína. Quando o respeito se sobrepõe ao ego, o resultado é sempre positivo para todos, especialmente para os pacientes.
E talvez essa seja a lição mais importante deixada por um episódio tão triste: que o conhecimento deve aproximar, nunca afastar.
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