A concorrência no setor óptico, assim como em qualquer outro segmento, é uma competição saudável, que resulta em serviços e ou produtos de qualidade cada vez melhores, motivando a busca pela excelência. O mercado está aberto à concorrência legalizada, o grande problema é quando o empresário, que atende todas as exigências legais do setor óptico, precisa disputar espaço e público com quem não está brigando de igual para igual, ou seja, quando a concorrência passa a ser desleal.
Pesquisas e levantamentos da Associação Brasileira das Indústrias Ópticas – Abióptica, sobre pirataria no setor óptico revelam, que dois terços das armações comercializadas estão relacionadas com algum tipo de descaminho ou ilegalidade. No caso dos óculos de sol o índice chega a mais de 70%.
Por meio de um programa estruturado de monitoramento e combate à pirataria e ilegalidades em produtos ópticos, a Abióptica usa inteligência artificial na identificação de produtos piratas vendidos online. Além disso, conta com parceria com a Receita Federal em portos e aeroportos para apoiar a fiscalização, identificação e destruição de produtos falsificados, e mais as ações de campo que englobam os mercados de varejo físico e em áreas de comércio popular.
A Associação divulga que em 2023 as ações e a parceria resultaram em: mais de 2 milhões de peças ilegais destruídas em portos; mais de 1 milhão de peças apreendidas em operações; mais de 52 mil estabelecimentos no varejo online verificados; mais de 20 mil ofertas identificadas de produtos falsificados.
A diretora executiva da Abióptica, Ambra Nobre Sinkoc afirma que a pirataria é crescente, apesar de todas as ações de combate. “Isso é resultado de diversos fatores que vão desde a cultura da população, com falta de cuidados com a saúde visual e baixa capacidade de adquirir produtos de luxo, passando pela alta sofisticação do crime organizado e culminando na fiscalização não efetiva por parte das autoridades”.
Ambra Nobre Sinkoc, diretora executiva da Abióptica
Tecnologia no combate à pirataria
A Nofake é uma empresa de tecnologia que protege grandes marcas e grifes combatendo a venda de produtos falsificados online, com atuação em diversos segmentos, entre eles o setor óptico.
O CEO, João Carlos Souza, afirma que a tecnologia é um grande diferencial no combate à pirataria online. “Somos uma empresa focada e orientada a dados. Organizamos, analisamos dados da pirataria para otimizar nossa operação e alcançar melhores resultados, isso é algo que faz parte da nossa cultura”.
João Carlos destaca que todo mercado tem evoluído cada vez mais na aplicação da inteligência artificial para melhoria dos processos de combate à pirataria, mas que muita coisa ainda está por vir na tecnologia. “Estamos em um momento de grandes mudanças na história da humanidade e só estamos ‘arranhando a superfície do iceberg’ da IA e suas aplicações no mundo empresarial”.
O presidente do Sindicato do Comércio de Óptica de Goiás – Sindióptica, e bacharel em Optometria, Leandro Fleury Rosa, fala que além da pirataria, há também o problema com a venda do produto em não conformidade, que não é caracterizado como pirata, pois não tem uma marca impressa. Segundo o presidente, quando os agentes públicos se deparam com produtos em não conformidade, não podem acusar de pirataria e não conseguem proibir a comercialização.
“Produto em não conformidade é o que não tem marca e é feito em baixíssima qualidade, e hoje esse processo se aplica não apenas em relação aos óculos de sol e às armações, mas também em lentes e até lentes de contato. Não há o mínimo de qualidade necessária para ofertar ao consumidor e são muito comuns em camelódromos”, comenta Leandro.
Leandro Fleury Rosa, presidente do Sindicato do Comércio de Óptica de Goiás – Sindióptica
O prejuízo é grande e não apenas o econômico com os custos para realizar as ações de combate à pirataria e ilegalidade, e para os players que atuam de forma correta. Também há o prejuízo para a saúde daqueles usuários de produtos piratas ou de baixa qualidade.
O produto em não conformidade ou pirata não é exclusivo do Brasil, abrangendo também países do primeiro mundo onde, em tese, seria maior o respeito às marcas e à indústria responsável que gera impostos e empregos. Uma pesquisa europeia divulgada no ano passado, pelo EUIPO-Escritório de Propriedade Intelectual da União Europeia, mostrou que um terço dos europeus concordavam em comprar produtos piratas.
Perigo à saúde
O médico oftalmologista Breno Reis ressalta que os óculos solares comprados em camelôs não têm comprovação de qualidade, nem de proteção adequada para raios UV, e que a possível baixa qualidade dos materiais desses tipos de óculos sem procedência, pode causar problemas de retina e acelerar o processo de catarata e outras doenças.
Outro alerta do médico é que os óculos de edição, aqueles com grau, que são lupas de aumento comprados em farmácias, têm o mesmo grau nas duas lentes, o que é pouco comum na prática, ou seja, o usuário acaba forçando demais, não tendo a correção correta em um dos olhos, ou até mesmo nos dois olhos, por estar usando o grau inadequado, o que também pode gerar problemas de saúde ocular. Com isso pode surgir a astenopia, que é o nome técnico para tensão ocular ou fadiga ocular, que provoca sintomas como desconforto ocular, dor de cabeça e visão embaçada.
“Para o uso adequado e seguro de óculos é necessário procurar um médico oftalmologista de sua confiança, passar por consultas e realizar exames para identificar corretamente a necessidade individual, pois cada caso é único. A escolha da óptica onde serão adquiridos os óculos, também é muito importante, procure por aquelas que trabalham com lentes de laboratórios certificados”, conclui Dr. Breno.
“Acreditamos que o indicador mais importante das ações empreendidas é o número de consumidores que foram protegidos pela retirada destes produtos de baixa qualidade e durabilidade do comércio. Somente nos anos de 2022 e 2023 foram protegidos mais de 40 milhões de consumidores”, frisa Ambra.
Por Renata Barussi
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