Nos últimos anos, tem-se observado um aumento preocupante nos casos de miopia em todo o mundo. Esta condição ocular, que afeta a capacidade de focalizar objetos à distância, não apenas representa um desafio para a saúde pública, mas também está moldando significativamente o mercado óptico.
De acordo com dados de organizações de saúde reconhecidas, como a Organização Mundial da Saúde e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, o crescimento da miopia tem sido constante ao longo dos anos. Estima-se que mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo sejam afetadas por essa condição até 2050. Uma das principais razões apontadas para esse aumento é o estilo de vida moderno, caracterizado pelo uso excessivo de dispositivos digitais e a consequente exposição prolongada a telas. Esses hábitos contribuem para a fadiga ocular e o desenvolvimento da miopia, especialmente em crianças e jovens.
Diante desse panorama, o mercado óptico tem respondido com inovações tecnológicas na fabricação de lentes e óculos. Lentes multifocais e específicas para corrigir miopia progressiva estão se tornando cada vez mais comuns, atendendo às demandas específicas dos pacientes míopes. Essas tecnologias visam não apenas corrigir a visão, mas também proporcionar conforto e reduzir a progressão da miopia.
Além do uso de dispositivos digitais, fatores ambientais como iluminação inadequada e a falta de tempo ao ar livre também desempenham um papel significativo no aumento da miopia. Estudos têm demonstrado que a exposição à luz natural e atividades ao ar livre podem ajudar a reduzir o risco de desenvolver miopia, destacando a interação complexa entre fatores ambientais e genéticos nesse processo.
O aumento da miopia está impulsionando a demanda por lentes especiais e tratamentos inovadores, o que está remodelando o mercado óptico. Empresas estão investindo em pesquisa e desenvolvimento para oferecer soluções mais eficazes e personalizadas aos pacientes míopes, impulsionando o crescimento do setor.
As consequências do aumento da miopia vão além dos desafios individuais de visão. Há implicações em termos de saúde pública, incluindo impactos econômicos devido aos custos crescentes com cuidados de saúde ocular e a redução da qualidade de vida associada à deficiência visual.
Para enfrentar esse desafio, várias iniciativas de prevenção e políticas de saúde ocular estão sendo implementadas em todo o mundo. Campanhas de conscientização, programas educacionais e políticas de saúde pública visam informar o público sobre a importância de cuidar da saúde ocular desde cedo e promover hábitos saudáveis de visão.
Para Matheus Duarte Lopes, da Óticas Louise, a demanda desse tipo de produto aumentou consideravelmente. Porém, o assunto ainda é relativamente novo e por isso gera dúvidas e “ruídos processuais” em todas as partes envolvidas. “ da nossa parte (óptica), precisamos estar sempre atentos às novidades referentes a estudos e pesquisas sobre o assunto, além de mantermos a capacitação e os conhecimentos da equipe em dia quanto às características e aplicações dos produtos de forma precisa.
Considerando o cenário financeiro do nosso país, os preços dos produtos para tratar miopia progressiva ainda são relativamente altos, e isso acaba fazendo com que, em vários casos, os pacientes (ou, os pais dos pacientes) acabem recuando e optando por lentes Visão Simples convencionais e, com isso, acabam não realizando o tratamento de maneira correta numa primeira instância.
A óptica tem um papel fundamental no processo de conscientização, especialmente porque ela é uma das partes quem está em contato direto com o paciente. Num mundo em que, cada vez mais, os estabelecimentos comerciais têm possibilidades de contato mais próximo com seus clientes, os mailings através de apps de comunicação e redes sociais se tornam possíveis ferramentas não somente de vendas mas também de conscientização. Além disso, ações direcionadas em escolas para pais, responsáveis e professores, fazem com que essa informação essencial seja disseminada mais rapidamente, fazendo com que todas as partes envolvidas nisso sejam devidamente beneficiadas.
Hoje todos os grandes fabricantes já possuem suas versões de lentes para tratamento da miopia progressiva, e isso permite que nenhuma óptica fique de fora desse universo. Portanto não importa se o óptico gosta mais da “França”, da “Alemanha” ou do “Japão”: tem pra todos os gostos! Todos os fabricantes têm aplicações semelhantes em suas soluções. Por esse motivo é essencial que a óptica se aprofunde em como o produto que ela opta vender age no controle da miopia e faça sua escolha sabiamente.
Ainda é um cenário relativamente novo, portanto é bastante desafiador. Porém, fruto dessa situação, é visto que mais fornecedores de armações tem se importado em ter uma “linha kids” para comercializar. Quanto à estratégia, esta precisa estar pautada em envolver todas as partes necessárias no processo: Conscientização para os pais e responsáveis das crianças (pacientes) especialmente quanto aos hábitos visuais das crianças, realização de capacitação por parte dos fabricantes tanto para óticas como médicos (por ser como um “remédio tarja preta” em que o laboratório só faz as lentes mediante a prescrição bem identificada do produto para conter progressão da miopia, é necessário que os médicos estejam alinhados com esse procedimento), atualização contínua do conhecimento das óticas sobre o problema em questão e também a disponibilização de armações adequadas para miopia”, afirma Lopes.
O gerente administrativo, Luiz Marcelo Casáquia tem 54 anos e é míope desde os 16. Ele conta que os primeiros sintomas surgiram na escola ao notar as letras embaçadas na lousa. “Fui ao oftalmologista e ele constatou miopia com grau baixo, mas que foi aumentando com o decorrer da idade e hoje está estabilizada em 4,0 graus”.
Segundo Marcelo, a miopia atrapalha bastante na prática de natação. Ele já tentou usar lentes de contato, mas tem receio do contato com a água da piscina, mesmo fazendo todos os procedimentos de limpeza das lentes. “Na minha família parece que o problema é hereditário, então o jeito é aceitar e manter em dia as consultas anuais com o oftalmo”.
Mesmo mantendo as consultas de rotina em dia, recentemente o gerente administrativo, teve problemas de “moscas volantes”. “É uma sensação ruim e durante o dia com sol forte é pior ainda. À noite a coisa fica um pouco disfarçada. Quando fui ao médico ele me disse que não tem muito o que fazer e que é comum em pessoas com miopia”, diz Marcelo que para corrigir a miopia sempre usou óculos revezando, às vezes, com lentes de contato.
Marcelo ainda conta que já procurou informações sobre a cirurgia para a miopia em duas ocasiões, uma quando era mais jovem e outra quando tinha 40 anos. “Na primeira vez desisti por medo do procedimento e na segunda porque o médico disse que mesmo com a cirurgia, eu enxergaria as coisas distantes e teria que optar por óculos para perto. Então não vi vantagem, preferi ficar sem cirurgia e poder ler livros de pertinho livremente sem a precisar dos óculos”.
“Não vejo muitas propagandas de conscientização na TV, penso que deveria existir mais, pois a visão é um dos mais importantes sentidos que temos. Como já faz um bom tempo que saí da escola, não sei se existe essa conscientização dentro de sala de aula, mas acho que é um bom lugar para se iniciar. Lembro que anualmente, tínhamos um médico que fazia exames de vista nos alunos. Acho isso muito importante”, deixa a dica Marcelo.
Estudos realizados em diferentes países apontam dados alarmantes sobre a prevalência global da miopia, indicando um aumento significativo. Em 2000, aproximadamente 22% da população apresentava miopia; em 2010, esse número subiu para 28%, e a projeção para 2050 sugere que essa taxa atingirá cerca de 50% da população. No que diz respeito à alta miopia, espera-se um salto de 2,7% em 2000 para uma projeção de 9,8% em 2050. No entanto, no Brasil, há uma escassez de estudos publicados sobre a prevalência da miopia, o que torna inviável chegar a uma leitura conclusiva. Ao avaliar algumas pesquisas regionalizadas, observamos uma taxa relativamente baixa da prevalência da miopia em comparação com países europeus e asiáticos.
De acordo com o médico oftalmologista André Homsi Jorge, independentemente dos estudos, é importante ressaltar que, na faixa etária de 1 a 30 anos, é natural encontrar uma prevalência mais elevada de miopia devido ao processo de crescimento axial do globo ocular. “Após os 30 anos, observa-se uma tendência de diminuição na prevalência da miopia, um comportamento previsível. O acompanhamento com um médico oftalmologista é determinante para manter a qualidade visual dos pacientes”.
Conclusão: A crescente prevalência da miopia representa um desafio significativo para a saúde ocular e para o mercado óptico. No entanto, com iniciativas de prevenção, inovações tecnológicas e políticas de saúde pública, é possível enfrentar esse problema e garantir um futuro com uma visão mais saudável para as gerações futuras. O setor óptico desempenha um papel fundamental nesse processo, promovendo a conscientização e oferecendo soluções eficazes para cuidar da saúde ocular.
Por Sandra Fonseca
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